Marcos Clark. Tecnologia do Blogger.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Yesterday


A disputa foi árdua, por apenas três dias de diferença meu pai perdera a aposta e por conta disso meu nome nem de longe foi Jude.
Marcos Paulo, apenas um ator de uma novela brasileira qualquer. Meu pai não se dava por vencido tão facilmente.
Digamos que a primeira frase que ouvi foi um HEY JUUUUDE acalorado enquanto ele me segurava pelos braços erguidos na sala de parto.
Foi paixão a primeira vista.
Nasci quieto e calmo demais, como aquela canção e assim permaneci naquele colo peludo, com lágrimas caindo sobre mim.

Os dias que permaneci no hospital por conta do meu corpo fraco demais e todas aquelas doenças foram sufocantes. Se ao menos tivesse alguma música... Gosto de acreditar que em algum canto daquela maternidade havia alguma enfermeira apaixonada cantarolando, here comes the sun little darling.
A segunda vez que vira meu pai foi reconfortante, cabelo comprido, barba longa, um típico hippie suburbano cantarolando Imagine.

As primeiras lufadas daquele ar pesado que invadiram meu ainda frágil pulmão me pôs a chorar.
Mama se desesperou achando que a insuficiência respiratória pudesse ter ressurgido.
- Relaxa Lucy, eu sei do que ele precisa. - papa esticara a mão tateando o porta luva daquele fusca, acredito que vermelho, e tirou de lá uma fita k7 e pôs Beatles top ten pra tocar.
- Sai dessa! Não será uma música de um monte de drogados que acalmará meu filho. - duvidou mama - Aliás, meu nome é Lúcia.
- Eu sei Lucy. - Mesmo de olhos fechado eu pude sentir aquele sorriso sarcasta abrindo em sua face.
Hey Jude, don't make it bad... e eu me acalmara.
Papa apenas largou aquele sorriso de escárnio que o pequeno saberia muito bem como usar em sua juventude.
- Neeeem pense nisso, o nome dele será Marcos! - esbravejou minha mãe.

Meu velho já não se preocupava mais com isso, tinha a certeza convicta de que ali ao lado dormia sua cópia perfeita.
Irônia, sarcasmo, os mesmo sonhos, os mesmos amores e Beatles.
Só não podia imaginar que aquele pequeno seria bem mais apaixonado e sonhador do que ele próprio jamais foi.
Ali dormia outro Beatlelado.
Sorria satisfeito com as mãos no volante, cotovelo no vidro abaixado, cabelos ao vento. Ele sabia que antes mesmo de sair daquele carro, eu já sabia o queria ser quando crescer.

4 Comente aqui:

Renata Chames disse...

Que sorte trazer os quatro garotos de liverpool já no berço! Ficou lindo, como sempre :D

Thaís disse...

Que sorte trazer os quatro garotos de liverpool já no berço! Ficou lindo, como sempre [2].
Se eu disser que estou sem palavras quanto aos dois textos e nem sei o que comentar você acredita?
Na verdade, só diria uma coisa... você não se acha uma pessoa feliz, parece ser frio, entre outras características, mas com esse texto e toda essa história e palavras bonitas e interessantes, você vai se tornando cada vez mais interessante e como as meninas dizem, super meigo. Meigo talvez por parecer ter um coração de pedra mas ser um eterno apaixonado. Enfim, estou encantada com os dois textos. Um super parabéns!

Uuri disse...

woooow!
um conto de um cinzento agosto...

MUITO BOM!

Larissa disse...

Foi o seu texto mais bonito, e o que mais mexeu comigo.

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