Pesadelo

Era sempre tarde naquela cidade acinzentada, as nuvens pareciam estar sempre presente onde quer que eu fosse, como se quisessem me lembrar que eu não tinha pra onde ir.
Pouco sabia sobre aquele lugar, era-me familiar tanto quanto distante.
Uma cidade inabitada, vazia, sem vida, um reflexo menos nítido do que um dia fora meu lar.

Ali tinha tudo e não tinha nada.
Aquele deserto me pertencia de alguma forma, as janelas quebradas, o asfalto destruído, os prédios em chamas, aquilo era o que havia criado.

E por lá eu corria, não somente corria, mas traçava cada canto daquela cidade fantasma numa velocidade assombrosa, de ponta a ponta destruindo as ultimas janelas e paisagens que ainda insistiam em permanecerem intactas.
O chão se desfazia, e eu continuava correndo, desesperado, sedento por uma centelha de vida.

Vaguei centenas de vezes e só encontrava poeira.

Nem gente, nem bicho.
Eu era o único ser naquela tragédia moldada.

Arfava desesperadamente, não de cansaço, mas de desânimo.

Por incrível que pareça, só encontrava paz no lugar que antes tanto temia, um lugar que evitava a todo custo, me agarrando ferrenhamente a lutar contra ele.

Aquele mar que circundava a região, um oceano infinito e azul, única lembrança viva do que já fora um dia.

O mar me envolvia e nem ali estava em paz.
As rochas caídas, o que restou do dilúvio acabava jogado ali na praia.
Meus pensamentos, a soma de todos os medos, minhas lamentações.

Mais uma tempestade fluía, choviam pedras, vidros, prédios e lágrimas.
Eu corria pro mar.
Não pra me afogar ou fugir da tempestade, eu era quase imortal, i-m-p-e-n-e-t-r-á-v-e-l.

Corria tentando fugir, desesperadamente da situação que eu mesmo causava.

Sangue e ódio.

Sabia que se aquilo tinha chegado ao estado que se encontrava, era culpa minha.
A destruição, morte e o terror.
Destruíra meu mundo, e me aprisionara nele por vontade própria.

Ao mar eu corria naquela velocidade de cegar os olhos.
Corria, corria, deslizava.
Ao olhar para trás, só destruição e fumaça.

Eu causara aquilo tudo, e estava completamente só.