Mergulho II
A felicidade brinca contigo, ela se mostra por alguns segundos, como se quisesse provar sua existência e tu te esconde.
Nesse eterno jogo de puxa-empurra, acabo ficando sempre para atrás.
A cada nova aparição eu me agarro ferozmente, como um sedento desesperado agarrar-se-ia a gotas de chuva em pleno deserto.
Assim como tal agua que cai, chegou de repente lavando minha vida. A segurança camuflada em momentos sublimes me trouxe de volta e se vai novamente.
Fui vitima do teu mesmo jogo de azar que outrora causara o desafeto.
Antes de vitima, me considero o culpado.
Culpado por ter me permitido mergulhar cada vez mais fundo no teu mar.
De ter caído novamente nas garras da tua voz.
A sensação é piedosa.
É horrível saber que não se pode tocar aquilo que estava ao alcance das mãos.
Saber que um dia teve o conforto, e se ver agarrado ao vazio.
Vazio sim, mas não inócuo, eu queria-te como uma criança deseja o impossível, como a lembrança de um sonho bom, com o barato do oxigênio.
A coisa mais importante...
Tu te afogas na mesma poça que não moveu nem sequer teu pequeno moinho vermelho.
Trocando tudo por nada, o prazer duvidoso pelo martírio tão certo.
Não te julgo ou condeno, em sua pele talvez pensasse o mesmo, na verdade pensei, estive aí e saí derrotado.
Rezo para que acredite no ídolo de ouro tão ferrenhamente quanto o idolatra.
Torço para que tenha fé no Deus que eu mesmo não tenho.
Torço para que pense em mim quando só lhe restar solidão.
Que perceba o quão tola está sendo ao pedir punição.
Espero que não coma, que sinta meu cheiro em teu alimento, que despreze os conselhos que lhe dou para que somente assim tenha saudades do que um dia lhe foi caro.
Espero que nessa tua liberdade almejada, tu te encontres então.
Mas que saiba de antemão que procuras em vão.
E fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparada atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheia pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o meu jeito exato, em algum cheiro estranho o meu cheiro preciso.
Permito me usar de frases do mestre para que possas aprender tal como aprendi, que se o Deus da liberdade existe Ariel, ele se chama solidão.
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