Vertigem
Estive no meio dos quatro vitrais, tão cético e de cabeça erguida, o bastardo invadia a catedral.
Efeito instantâneo.
Nem cruzes, nem imagens, nem o Salvador.
O que me deixou envergonhado foi a plenitude do lugar.
Um silêncio e uma paz tranquilizadora.
Em minha cabeça somente a voz de John Lennon.
Beautiful, beautiful, beautiful boy...
Tentava olhar pra cima e tudo girava.
A imensidão daquele lugar era estonteante.
Senti-me anulado.
Apenas mais um deserdado dentro daquele templo antigo.
Nem mil cópias fariam aquela paz ruir.
Recolhi-me em minha insignificância
Segurei-me em frios bancos pra não cair de joelhos naquele ritual ecumênico.
E dei por mim enfim, não estava só.
Passantes entravam e saiam como formigas operárias.
Estupefatos, maravilhados como eu mesmo fiquei entre aquelas paredes de tijolos e cimento.
Pirâmides, cores e cruzes diferenciavam os ricos dos pobres.
Bem ali no canto alguém implorando perdão.
No outro, miseravelmente uma idosa pedia socorro.
Ninguém estendia a mão.
Moedas estrangeiras caiam e caiam dentro daquele cofre de madeira e nenhuma moeda, nenhum níquel chegou a causar alergia na mão daquela senhora.
Foi deprimente.
Via-me entre dois mundos completamente desiguais.
Preso numa guerra entre o céu e a Terra não podia nem mesmo tomar partido.
Em cima do muro, implorava respostas.
Não que fosse mudar muita coisa.
Pois lá estava eu envolvido, entre turistas e mendigos percebi que não sou nada.