Marcos Clark. Tecnologia do Blogger.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Saudade


Rotina. É como chamo minha volta à casa. Agarro-me a solidão. Uma solidão moldada, quase falsa. Corriqueira. Minha solitude dura o tanto quanto o ressoar do meu prato de ataque. E foi o que fiz. Tentei matar minha solidão com a música.
Sentei-me de frente pra bateria, com uma destreza quase magistral ajuste-ia de tal modo que os vizinhos mais distantes pudessem reclamar do barulho. Retirei a poeira com um ou dois abanos, alinhei a postura e comecei Get Back.
Bastavam as três batidas iniciais na caixa e a primeira resposta do bumbo para que surgisse bem ali diante de mim uma figura pequena. Hiperativa e com um apaixonante sorriso no rosto. Meu afilhado. Imperioso desde os 3. Expulsando-me da bateria que havia tomado como sua. Confesso, eu ficava puto da vida de nunca, conseguir ensaiar em paz. Nunca.
Mais três batidas e nada. Pulei toda a ponte e fui direto ao refrão, somente para fazer soar o barulho alto demais, sedutor demais pr'aquela pequena criança.
Já estava quase almejando a aparição que agora acalentaria-me tanto. E nada.
Aos poucos a ficha caia. A essa hora, aquela mesma criança se encontrava a milhares de quilometros daqui. Impossibilitada de ouvir aquele barulho que tanto amava.
Eu estava enfim sozinho. E chorava.
Chorava num silêncio não condizente com as pancadas altas de minhas baquetas.
Chorava então na paz que eu tanto pedia nessas horas, e que agora me dilacerava por inteiro.
Aceitar o fato de que pessoas vem e vão nunca foi meu forte. Eu não iria aceitar.
E me pego tocando. Alto. Mais alto. Um barulho quase ensurdecedor.
Como que se por uma fé cega no inexistente, eu acreditasse que aquele moleque mesmo no outro extremo do país, pudesse me ouvir novamente.

3 Comente aqui:

Yuri disse...

Saudade dói? Vou escrever SAUDADE num tijolo e tacar na tua cara, só pra voce ver COMO saudade DÓI!

eita bichinho uqe corrói. essa porra de saudade mata e ainda sim permite que continuemos vivos para mais um dia senti-la maior...

Larissa disse...

Belo texto, e ganha um sentido ainda mais bonito pelo motivo da saudade. Foge daquela saudade clichê de "namorados", eu amei.
E me senti sentada em uma bateria, tocando e chorando de saudades...

V i h disse...

Poorra Clark!
Quase chorei nesse...

Muito lindo.

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