Marcos Clark. Tecnologia do Blogger.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A culpa


Um sorriso me escapa, longe de ser alegria ou satisfação, antes de irônia. É engraçado quando em desespero nossa única reação é sorrir. Alguém acabara de morrer bem na minha frente e eu apenas sorria.
Senhor de idade, sabe-se lá quantos anos ao certo, no meio da rua, estirado feito carpete.
A principio um atropelamento comum, causado por mais um pedestre distraído. Mas não. Eu sabia que ele ia morrer, ele sabia que iria morrer. Foi suicídio.
Sim, eu deveria ter feito algo pra impedir aquele homem de atravessar a avenida no sinal vermelho. Mas desejaria ele ser salvo? Acho que não.
De fato eu nada fiz. Abracei-me como que em redenção diante da culpa que me tomava e sorri. Ficava me perguntando se a força que me impulsionava para salva-lo seria mesmo para salvar à ele, ou à mim mesmo de tamanho fardo. Correria por mim. Ato hipócrita, eu sei, mas ninguém saberia e seria tomado como herói.
Aliás, a culpa era mesmo minha? Ela poderia talvez ter sido sua. Sim, sua.
Aquele velho poderia ser teu pai, que por descontentamento ou desgosto optou pelo pior. Ou quem sabe teu marido, antes amado, agora traído, resolveu se atirar ao infinito. Ou quem sabe aquele louco que te amara, e por rejeição, perdeu seu motivo de vida.
Nada se sabe sobre ele. A única coisa que posso afirmar é que fora apenas mais um assassinado pela vida de outros. Assassinado por você e por mim.
Afinal. Quantas pessoas você já matou?

2 Comente aqui:

Yuri disse...

fatos corriqueiros que marcam a nossa estadia nesse 'mundão de Meu Deus'.
transeuntes que ganham vida, nascimento, morte e um pós-morten na nossa viajante imaginação de escritor.

pobre e humilde imaginação.

V i h disse...

A salvação pode ser egoísta ou altruísta.
Se você o conhecesse, mudaria alguma coisa?

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