Rio de Janeiro, 4 de outubro.
Eu não sei sobre o que escrever.
Passo o dia todo aqui dentro desse quarto quente esperando que alguma coisa aconteça, que alguém me ligue e me tire do tédio.
Eu me agarrei a esse tipo de esperança boba sabe-se lá o porquê, ela diz que é tudo culpa das comédias românticas.
Talvez seja mesmo.
To aqui dividindo meu tempo entre documentários de 10 minutos e pesadelos de 1 hora.
Nunca sei se meu suor ao acordar é causado pelas ondas do mar que me atacam nos sonhos ruins e por conta desse edredom que insisto em usar mesmo nos dias quentes.
Nada aqui é tão calmo quanto parece.
Minhas únicas companhias durante toda a semana têm sido meus gatos e meus medos.
Tenho tido pesadelos frequentes e to a quase 7 dias sem escrever nada que preste, nada que valha a pena ser publicado.
Fico aqui me perguntando porque meu desktop está lotando de textos e contos inacabados.
Eu sei lá!
Antigamente culparia minha calmaria, sim, estou numa paz agoniante.
Sereno.
Entediado, mas feliz.
O que tira minha paz mesmo é tentar escrever na terceira pessoa e não conseguir, é aí que me bate uma angústia...
Meu romance está parado na página 12 e tenho tantas histórias que não consigo sequer começar a digitar.
To precisando de uma abordagem nova.
Já arrumei o quarto, assisti filmes e musicais e nem assim a inspiração veio, eu simplesmente desisti.
Engraçado, meu quarto estava uma zona hoje cedo e eu me sentia bem, agora que está tudo no lugar sinto ele tão vazio...
Enfim, acabei de fazer um currículo, coisa que jurava que jamais faria em toda vida.
Me senti mal, como se estivesse novamente vendendo meu tempo e minha alma pra esse parasita chamado consumismo.
Isso é culpa do tédio.
Grana eu até consigo, mas o que quero mesmo é ocupar meu tempo.
Quero voltar no tempo.
A dois, três anos atrás costumava ler uns 3 livros por mês.
Passava horas lendo enquanto cruzava a cidade do Rio de Janeiro de ponta-a-ponta dentro de ônibus vazios e solitários.
Conhecia pessoas novas a cada anoitecer, e contava-lhes minhas histórias passionais que jamais contaria pr'um conhecido.
Eu não tinha medo de nada.
O mundo era algo estranho, tudo era vida e cheirava a novidade.
Me sentia bem conhecendo cada canto dessa cidade atormentada pelo calor e violência.
Descobri histórias coesas e lugares que me pertenciam.
Lembrando-me disso percebo que o quanto é engraçado nossa realidade.
O quanto tudo é passageiro e volúvel.
Costumava sair do trabalho ao pôr do sol e passava horas no forte de Copacabana ou na praia do Leblon fumando um cigarro e escrevendo sobre consumismo e a morte.
Escrevia sobre morte não por depressão, mas por ser um assunto ainda misterioso pra mim, eu amava a vida e cantava o amor aos quatro ventos.
Olhava aquele mar lindo lá embaixo, refletindo as luzes que as estrelas jogavam na Terra, eu achava tudo belo.
Naquela época o mar não me assustava tanto e a morte não era um assunto batido.
Hoje o mar me apavora.
A menos de 40 minutos enquanto dormia com as luzes acesas e o computador ligado no meio de um documentário sobre a vida de Renato Russo, eu apaguei.
Sonhei que estava em Angra dos Reis numa época que nunca vivi.
Como aquele lugar era lindo quando eu estava lá no sonho.
Sonhei que alguma sereia, desculpe-me a falta de um nome, pegava-me pela mão e mostrava-me que o mar não era algo tão perigoso quanto eu acreditava ser.
E realmente não era.
Aquele mar calmo na noite calma que seguia chegava a ser admirável.
Não tinha onda alguma, só o vento suave que acariciava meu rosto como se quisesse seduzir-me.
Eu me entregava àquele prazer.
Até que o tempo rapidamente mudou e as ondas começaram a se formar com uma força surpreendente.
Agarrei-me àquele ser mitológico metade mulher, metade peixe e levei sua mão a altura do meu peito, mostrando-lhe o quanto meu coração batia assustado.
Ela tentou acalmar-me, dizendo-me que as ondas não chegariam até mim.
Levei-me pela calma que sua voz suave e confiante passara.
E fechei os olhos, como quem cobre o rosto pra não ser afetado pelo mundo de fora.
Voltando a abri-los me vi como se estivesse sobre um punhado de areia no meio das águas rasas, sozinho.
As ondas batiam na costa e eu gritava por socorro.
As águas não vinham somente do mar pra areia, como deveriam vir, mas também da areia pro mar, cercando-me em todas as direções.
Desesperado fui engolido pelas ondas.
Acordei encharcado de suor.
Arfando.
Passei a mão nos cabelos molhados, e senti o cheiro de mar.
Minha pele estava salgada, minha cama estava molhada, minhas mãos cheiravam a sereias.
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